quarta-feira, 8 de julho de 2009

Caro Amigo


Esta história meu avô contou a minha mãe, que nos contava quando éramos pequenos. É a história de Santa Isabel. Santa Isabel da Hungria, comemorada em 17 de novembro, não Santa Isabel, rainha de Portugal, comemorada em 4 de julho. Também conhecida como Santa Elizabeth (Isabel derivaria deste nome), nasceu em 1207, na Hungria e casou-se com um nobre da Turíngia.É uma história que guardo até hoje, com carinho, como tantas histórias da minha infância.


As Rosas de Santa Isabel


Há muitos e muitos anos, no reino da Hungria, o rei e a rainha tiveram uma filha que se chamou Isabel. A princesinha era tão bondosa e gentil que o povo a amava muito. Tinha sempre um sorriso e uma palavra amável para todos e, já crescida, procurava melhorar a vida das pessoas.

Na idade apropriada, casou-se com um nobre chamado Ludwig e foram morar na Turíngia, uma região da atual Alemanha. Ludwig era sério, calado, bem mais velho que Isabel, e a intimidava um pouco. Mas se amavam muito. Tiveram quatro filhos, e seu castelo era cheio de alegria.

Além de cuidar da família, Isabel continuava a se interessar pelos menos afortunados e fazia tudo para ajudar as pessoas em aflição. Mandava alimentos para as famílias mais necessitadas, ia em pessoa levar uma palavra de conforto aos doentes.

Apesar de admirar a generosidade da esposa, Ludwig não aprovava que ela frequentasse as pessoas comuns. Achava indigno de uma princesa andar pelas ruas junto com servos e camponeses, e as missões caridosas da mulher nem sempre o agradavam.

Um dia de inverno, Isabel aproveitou que Ludwig tinha ido à caça com amigos nobres e saiu em meio à neve para visitar uma família muito pobre. Levava sob o manto vários pães, tantos quantos conseguia carregar. Curvada ao peso dos pães, caminhava com dificuldade descendo a colina pela estrada coberta de gelo. Não ousava erguer os olhos do chão, temendo perder o equilíbrio. Finalmente, com um suspiro de alívio, chegou à base do monte. Levantou os olhos e, com grande surpresa, viu o marido e os amigos voltando da caça mais cedo do que esperava.

Isabel parou, subitamente ruborizada. Teria saído da estrada para se esconder no bosque, mas não havia mais tempo. Logo os cavalos a tinham alcançado e os cavaleiros olhavam, entre intrigados e divertidos, a princesa no meio da neve, apertando o manto contra o corpo.

O marido sorriu com ternura e cavalgando a passo a seu lado, perguntou:

-Aonde está indo, querida?

Isabel não sabia o que dizer. Ludwig se aborrecia com seu hábito de sair desacompanhada para visitar os pobres e doentes em cabanas miseráveis, e ela não queria envergonhá-lo na frente dos amigos. Encolheu-se e segurou os pães mais perto do coração enquanto procurava uma resposta.

Ludwig percebeu a hesitação da esposa e perguntou, já com o cenho franzido:

- O que você está carregando sob o manto, que a faz andar tão curvada?

Ouvindo essa pergunta, os cavaleiros se aproximaram, ainda mais curiosos.

Cada vez mais embaraçada, Isabel ergueu o olhar para o marido. Sabia que os nobres cavaleiros ririam com desdém se ela dissesse a verdade e não queria despertar o desprezo deles. Sem mesmo pensar no que dizia, a palavra lhe escapou:

- Rosas!

Suas faces coraram no instante mesmo em que falou, pois sabia que era impossível. Daria tudo para ter coragem de admitir que havia mentido, mas, prevendo a risada dos caçadores, ficou em silêncio.

Atônito, Ludwig via que alguma coisa estava acontecendo e adivinhou a verdade. Só não se deixou levar pela compaixão por temor de ser ridicularizado pelos amigos. Inclinando-se na sela, disse em tom firme:

- Deixe-me ver.

E, tomando a gola do manto, abriu-o completamente.

Então um milagre aconteceu: nas dobras do manto, não encontrou os pães que Isabel esperava ver, mas rosas! Belas rosas frescas, vermelhas e brancas, em pleno inverno. A doçura do verão encheu o ar da mais rica fragrância.

Fez-se silêncio total. Ludwig olhou por um momento o rosto de Isabel e, tomando uma rosa vermelha de dentro do manto dela, colocou-a na lapela, junto ao coração. Inclinou-se para beijar a mulher, dizendo ternamente:

- Siga seu caminho, meu amor.

Retornou com os demais ao castelo, deixando Isabel muda de surpresa na estrada gelada, olhando a braçada de rosas que carregava.


Muito bonita, não? E é por isso que Santa Isabel é padroeira dos padeiros.

Essa versão eu encontrei no "Livro da Virtudes" II, de William J. Bennett, pela Editora Nova Fronteira, mas meu avô narrava a sua versão tão bem que só ele poderia contar.


Com carinho, Yara.

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