A mesa simples, mas farta, com café e leite quentinhos. Leite tão gordo que eu tirava a nata com a colher. Manteiga de tablete, que derretia no filão. Filão de pão... Era esse o café da tarde na casa de minha avó.
Eu não via a hora das férias chegarem para passar uns dias com meus avós no "morro" (era assim que a gente chamava o lugar, uma ladeira de tirar o fôlego, literalmente). Era o momento de brincar com outros amigos, jogar cartas com a minha avó, explorar o barracão que meu avô mantinha no quintal, brincar à noite na rua tendo os olhos atentos dos dois, enquanto conversavam com os vizinhos em cadeiras na calçada.
O jardim de minha avó era um mundo a parte. Os pés de azaléia estavam sempre carregados de flores lilases, brancas e cor-de-rosa; havia uma pequena boca-de-leão amarela que me encantava; as rosas pareciam enormes nas minhas mãos; os lírios; copos-de-leite; palmas...
Uma coisa que me maravilhava era ver minha avó costurar. Seus pés rapidinhos embalando o pedal e a mão brecando a roda da máquina. A caixa de costuras era um baú do tesouro, com botões, miçangas e canutilhos brilhantes. Quando chovia, eu passava as tardes fazendo crochê com minha avó, ouvindo música do seu tempo nos discos de 78 rotações.
Meus avós sempre tiveram um carinho enorme por meu irmão e por mim. Nos mimaram, mas não nos "estragaram", pois sempre ensinaram o que era certo e o que era errado. Meu irmão era ninado com "Que anjos são esses que andam rodeando, de noite e de dia, Padre Nosso, Ave Maria", cantada por meu avô.
Estou escrevendo isto porque hoje é o Dia dos Santos Joaquim e Ana, avós de Jesus. Hoje é o Dia dos Avós e eu me sinto honrada em ser neta de pessoas íntegras, honestas, que passaram por guerras, por privações, por muita labuta, mas que tiveram dignidade em transmitir aos descendentes os valores e as virtudes de uma vida correta.
Graças a estes dois anjos guardo as melhores lembranças de minha infância.
Com carinho, Yara.
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